ARIPUANÃ, Quinta-feira, 18/04/2024 -

NOTÍCIA

Ucrânia ordena desarmamento de grupos paramilitares

Data: Terça-feira, 01/04/2014 00:00
Fonte: António Carneiro, RTP

Ucrânia ordena desarmamento de grupos paramilitares

Max Levin, Reuters


O parlamento da Ucrânia deu ordens às forças de segurança para desarmarem os grupos armados ilegais e a polícia começou por encerrar a base de uma organização da extrema-direita nacionalista em Kiev. A repressão dos grupos armados ocorre depois de uma noite de violência no centro da capital em que ficaram feridas três pessoas, Ontem, os chefes das diplomacias da Alemanha, França e Polónia tinham pedido às novas autoridades ucranianas para se distanciarem de “grupos extremistas”.

 

A polícia invadiu esta segunda-feira um hotel no centro de Kiev que servia de base ao movimento “Setor de Direita” (Pravii sektor). Os militantes do grupo foram forçados a abandonar o local deixando ficar para trás as suas armas e conduzidos depois ao seu quartel-general, localizado fora da capital. 



A organização radical teve um papel preponderante nos protestos da praça da Independência que levaram à queda do presidente Viktor Ianukovich. Foram os militantes do Setor de Direita que primeiro utilizaram táticas violentas contra a polícia de choque, incluindo o lançamento de coktails molotov e tijolos contra os veículos da polícia. 


Uma questão de imagem
Mas a continuação das atividades do grupo após a queda de Ianukovich tornou-se numa questão embaraçosa para as novas autoridades, que tentam estabelecer o ambiente pacífico e ordeiro antes das eleições presidenciais de 25 de maio. 



A presença dos milicianos armados tornou-se num principais tópicos da máquina de propaganda russa que descreve um cenário sem lei nem ordem nas ruas das cidades ucranianas. Foi aliás com o pretexto de proteger cidadãos russos, alegadamente ameaçados por grupos fascistas ucranianos, que Vladimir Putin lançou a operação que culminou na anexação da Crimeia. 


"Atmosfera criminosa" e "provocações sistemáticas"


O parlamento de Kiev reconhece que a presença dos grupos armados dá argumentos ao Kremlin e relaciona uma crescente “atmosfera criminosa” com aquilo a que chama “provocações sistemáticas de cidadãos estrangeiros nas regiões do sul e do leste da Ucrânia e em Kiev” , sugerindo que agentes provocadores da Rússia estão a semear insegurança nalgumas partes do país. 



“O parlamento ordena ao Ministério do Interior e aos serviços de segurança do Estado que desarmem imediatamente os grupos armados ilegais “, lê-se no texto da moção. 



“Só os elementos das forças armadas da Ucrânia, da Guarda Nacional e dos Serviços de Segurança do Estado (SBU) estão autorizados a andar armados”, disse o presidente interino Oleksander Turchinov, “se não pertencem ao Exército, à Guarda Nacional ou à Polícia é porque são sabotadores que trabalham contra a Ucrânia”


"Triângulo de Weimar" apelou ao desarmamento dos grupo radicais


Segunda-feira, os ministros dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, França e Polónia, países que constituem o assim chamado “triângulo de Weimar”, tinham pedido a Kiev que implementasse pontos-chave do acordo de 21 de fevereiro, o qual foi mediado por estes mesmos diplomatas com o objetivo de colocar um ponto final ao braço de ferro entre o então presidente Ianukovich e os manifestantes. 



O documento chegou a ser assinado por Ianukovich e pelos líderes da oposição mas o presidente fugiu de Kiev horas depois e foi destituído no dia seguinte pelo parlamento. 



O acordo incluía um apelo a que os grupos envolvidos nos protestos entregassem as armas ilegais. A Rússia tem vindo a insistir que o acordo deve ser aplicado, particularmente no que respeita ao desarmamento de organizações radicais. 


Rússia saúda apelo dos ocidentais
A Rússia saudou entretanto o apelo dos diplomatas ocidentais. “Os ministros apelaram ao fim do Estado sem-lei na Ucrânia e isso é extremamente importante”, disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros Grigory Karasin citado pela agência Interfax. 



O reconhecimento pode ser visto como um sinal de distensão numa situação em que se esteve à beira de um conflito armado. Outros passos nesse sentido foram o encontro do fim de semana entre os chefes da diplomacia da Rússia e dos EUA, e a notícia de que Moscovo tinha começado a retirar alguns dos mais de 50.000 soldados que mantinha junto à fronteira ucraniana. 


Crise da Crimeia está para durar, diz ministro alemão


Apesar disso, a crise provocada pela anexação da Crimeia pela Rússia está para durar, como reconheceram os ministros da Alemanha, França e Polónia. 



“Não estamos em condições de solucionar este conflito a curto prazo”, declarou o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros Frank-Walter Steinmeier, “as posições dos dois lados estão demasiado afastadas”. 



A Rússia considera a Crimeia como uma parte do seu território e Kiev diz que nunca reconhecerá a perda dessa parcela do território ucraniano. A maioria da comunidade internacional considera a anexação da península como contrária ao direito internacional. 


Ucrânia e NATO - sim, mas pouco...
O parlamento ucraniano aprovou esta terça-feira a realização  de manobras militares conjuntas com países da NATO e da União Europeia no território do país, as quais terão lugar entre maio e outubro e incluirão as águas do Mar Negro. 



Os três ministros do triângulo de Weimar deslocaram-se esta manhã a Bruxelas para participar na cimeira que reúne os 28 países membros da NATO. O objetivo é o de discutir a estratégia da Aliança Atlântica face à continuada pressão da Rússia sobre a Ucrânia. 



A este respeito, o responsável pela diplomacia alemã disse poder imaginar um futuro de cooperação estreita entre a Ucrânia e a NATO, mas afirma não vêr, “a título pessoal, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, perspetivas para uma adesão da Ucrânia como membro de pleno direito da NATO”.


Rússia aumenta o preço do gás para a Ucrânia


A pressão russa faz-se sentir também na esfera económica. O gigante estatal russo da energia, Gazprom, anunciou terça-feira um aumento de mais de 40 por cento nos preços que a Ucrânia terá de pagar pelo gás natural da Rússia.



Kiev terá de pagar 385,5 dólares por metro cúbico de gás, no segundo trimestre de 2014, face aos 268,5 dólares que tinham sido acordados em dezembro passado. 



Este preço é superior à média de 370 dólares por metro cúbico que a Gazprom cobra aos seus clientes europeus, mas um pouco abaixo da fasquia dos 386-387 dólares, que Kiev dizia estar à espera.



O presidente executivo da Gazprom, Alexei Miller, justificou o aumento com a dívida das contas de gás por pagar da Ucrânia que ascende a 1,7 mil milhões de dólares.



“O desconto de dezembro para o gás já não pode ser aplicado”, disse Miller, acrescentando que a tarifa de transporte do gás da Gazprom para a Europa através da Ucrânia ia aumentar dez por cento, em linha com os acordos anteriores. 


A arma económica de Vladimir Putin
O presidente russo Vladimir Putin tinha concordado, em dezembro, baixar o preço do gás vendido à Ucrânia e fornecer um pacote de assistência financeira a Kiev, depois de o então presidente Ianukovich ter decidido, abruptamente, suspender um acordo de associação com a União Europeia. 



O contrato estaria sujeito a uma avaliação trimestral e, depois de Iianukovich ter sido deposto em fevereiro, Putin disse que o desconto iria ser cancelado, por causa da dívida dos ucranianos à Gazprom.



O primeiro-ministro interino da Ucrânia, Arseny Iatsenyuk já disse que o seu país vai precisar de energia da União Europeia , para se proteger das consequências do conflito com Rússia da qual está depedente para o fornecimento de mais de metade do gás e petróleo.